A soja fechou em queda na bolsa de Chicago nesta quinta-feira (31/03), puxada pela projeção de que a área de plantio da oleaginosa nos Estados Unidos será maior que a do milho na safra 2022/23, uma surpresa para os analistas.
O contrato com vencimento em maio, o mais negociado atualmente, recuou 2,75% (45,75 centavos de dólar), a US$ 16,1825 o bushel, e a posição seguinte, que vence m julho, caiu 2,71% (44,50 centavos), a US$ 15,980 o bushel.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) surpreendeu o mercado ao informar hoje que projeta que a área de cultivo de soja será maior que a do milho, principal cultura do país, na próxima temporada. O fato é bastante incomum: essa é apenas a segunda vez que isso ocorre, segundo a série histórica do USDA; a primeira foi em 2018.
Em seu relatório de intenção de plantio, o órgão projetou que a área destinada à soja será de 36,83 milhões de hectares e a do milho, de 36,22 milhões de hectares. A expectativa do mercado era de 35,29 milhões para a oleaginosa e 35,94 milhões de toneladas para o cereal.
Na prática, a indicação do USDA aponta para uma perspectiva de oferta mais confortável de soja no mercado global. Os americanos são o segundo maior produtor e exportador da oleaginosa no planeta, atrás apenas do Brasil.
O analista Matheus Pereira, da Pátria Agronegócio, lembra ainda que a área de plantio prevista pelo USDA é recorde. No caso do milho, afirma, a área será a menor em quatro anos.
Milho
O contrato do milho com vencimento em maio, o mais negociado, avançou 1,46% (10,75 centavos de dólar), a US$ 7,4750 o bushel. A posição seguinte, para julho, por sua vez, subiu 1,81% (13 centavos), para US$ 7,330 por bushel.
Pereira reforça que o mercado já esperava uma redução na área dedicada ao cereal nos EUA. No entanto, a guerra na Ucrânia gerou dúvida entre os analistas sobre, já que esse fato novo poderia levar os agricultores a aumentarem sua opção pela cultura. “O problema é que a alta dos fertilizantes tirou o interesse do agricultor. O insumo ficou muito caro, e a guerra acentuou a disparada, embora a rentabilidade das lavouras tenha aumentado desde o início do conflito”, argumenta o analista da Pátria.
Para efeito de comparação, a participação dos fertilizantes no custo operacional da soja nos EUA é de 35% e no milho, de 60%.
As projeções do USDA tiveram mais impacto sobre os preços dos contratos da nova safra americana. No caso do milho, o vencimento para dezembro subiu 4,23%, a US$ 6,8375 o bushel, enquanto a soja para novembro caiu 3,38%, a US$ 14,2050 o bushel.
Matheus Pereira afirma ainda que, apesar do indicativo desta quinta, ainda é possível que o milho retome área da soja. Segundo ele, isso dependerá de como ficarão os preços e as políticas de subsídio dos EUA até o início dos trabalhos de campo.
Durante o pregão, o USDA também apresentou seu levantamento de estoques trimestrais nos EUA. O dado, embora tenha ficado em segundo plano nesta quinta, é importante porque dá indícios sobre os números dos estoques de passagem da safra 2021/22 que aparecerão no primeiro relatório de oferta e demanda para a temporada 2022/23.
Para a soja, o USDA apontou aumento anual de 24%, para 52,52 milhões de toneladas estocadas até o dia 1º de março. O volume ficou acima das expectativas de analistas ouvidos pelo jornal “The Wall Street Journal”, que esperavam algo próximo a 51,52 milhões de toneladas.
No milho, o crescimento foi de 2%, para 199,4 milhões de toneladas, um pouco abaixo da previsão dos analistas, de 200,28 milhões de toneladas.
Fonte: Valor Econômico