Nutrição de precisão da matriz gera mais ovos férteis, menos mortes embrionárias e pintinhos mais produtivos

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FICHA DE CONSUMO DE SUPLEMENTO MINERAL GRÁTIS

O crescimento experimentado pela agricultura nos últimos anos tem colocado o Brasil em um cenário muito favorável diante dos principais produtores de proteína animal do mundo. De 2010 a 2020, o alojamento das matrizes de aves para frangos de corte saltou de 46,5 milhões para 55,3 milhões, crescimento em torno de 15%.

O crescimento experimentado pela agricultura nos últimos anos tem colocado o Brasil em um cenário muito favorável diante dos principais produtores de proteína animal do mundo. De 2010 a 2020, o alojamento das matrizes de aves para frangos de corte saltou de 46,5 milhões para 55,3 milhões, crescimento em torno de 15%. Somente de 2019 para 2020 foram alojadas cerca de 4 milhões a mais de matrizes, um aumento de 7% de um ano para o outro.

Essas mais de 55 milhões de matrizes são as responsáveis por povoar as granjas em todo o país. Atualmente, o Brasil é o maior exportador e o terceiro maior produtor de carne de frango – atrás apenas dos Estados Unidos e da China. “É um setor altamente produtivo e cada dia mais pujante. Tem se expandido em vários mercados mundiais e isso nos coloca diante de vários desafios”, menciona o professor doutor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP), Lúcio Francelino Araújo.

O profissional foi um dos palestrantes da Reunião Anual do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA), realizado de forma remota em novembro, ocasião em que tratou sobre o tema “Melhorando a progênie pela nutrição das matrizes”. Araújo destaca a nutrição como fundamental para ampliar a produção de ovos férteis, reduzir a mortalidade embrionária e garantir um pintinho saudável e que possa expressar seu máximo potencial genético.

Araújo é categórico. “Ao investir na alimentação das matrizes o produtor estará onerando o sistema de produção? A resposta é simples: os custos de produção do ovo para incubação ou o pintinho de um dia são insignificantes quando comparados ao custo por quilo de ave viva”, enfatiza o professor da USP.

E porque são insignificantes? Um estudo feito por pesquisadores aponta o custo de alimentação da matriz comparado com o custo total da alimentação da produção de frangos de corte, projeção ilustrada nos gráficos 2 e 3. O estudo faz uma relação da quantidade de ração que é necessária para a produção de um pintinho, fazendo uma relação em termos do que a matriz consome e da quantidade de pintinhos que ela produz durante seu ciclo de produção, sendo observado que é necessário em torno de 300 gramas de ração para a produção de um pintinho.

Araújo diz que esses dados são importantes porque quando é feita a relação da quantidade de ração necessária para produção de um pintinho e a quantidade de ração necessária para a produção de um frango de corte é observado que corresponde em torno de 6,21% da ração necessária para a produção de um frango para abate. “Então o investimento que é feito na manutenção da matriz para a produção de pintinhos é considerado baixo e o retorno é muito positivo”, justifica.

Transferência dos nutrientes

Parte da quantidade de nutrientes que uma galinha ingere será utilizada para o seu desenvolvimento corporal, crescimento e manutenção. Outra parte desses nutrientes vai ser depositada nos ovos, que vão garantir o melhor desenvolvimento dos pintinhos. “Níveis inadequados, excessivos ou desequilibrados de nutrientes na matriz podem acarretar efeitos deletérios sobre o embrião, além de agravar severamente os estágios iniciais de desenvolvimento. Então o que devemos ter em mente é que tanto o excesso quanto a deficiência desses nutrientes que vão ser depositados nos ovos podem causar algum problema no desenvolvimento desse pintinho, seja na incubação ou até mesmo após a eclosão”, afirma.

O pesquisador lembra que uma das principais fontes de nutrientes para o desenvolvimento embrionário está na composição da gema do ovo.

Araújo explica que a constituição interna do ovo envolve a gema e o albúmen, sendo que os nutrientes do albúmen são transportados da corrente sanguínea para o oócito em desenvolvimento para formar a gema do ovo e os nutrientes da gema e as macromoléculas são absorvidas, metabolizadas e transportadas para a corrente sanguínea embrionária através do tecido do saco vitelino.

E como os nutrientes são transferidos para o embrião?

O professor da USP explana que uma das formas é através do pedúnculo da gema, canal que transfere os nutrientes para o intestino médio desse embrião que está na fase de desenvolvimento. Outra forma de transferência dos nutrientes para o desenvolvimento embrionário é através da membrana do saco da gema. “E nesse ponto vale lembrar de um aspecto que é muito positivo: a estrutura da morfologia do saco da gema é semelhante às vilosidades intestinais, então a membrana do saco da gema tem a capacidade de absorver nutrientes que estão presentes no conteúdo da gema e que serão transferidos para o desenvolvimento do embrião”, detalha.

Estudos mais recentes demonstram que o saco da gema possui propriedades multifuncionais, desenvolvendo atividades semelhantes ao do intestino delgado, através de digestão e absorção de nutrientes e transferência da imunidade passiva. “Também ocorre no saco da gema, durante o desenvolvimento embrionário, a síntese de glicogênio, o metabolismo lipídico, a produção de bile, a eritropoiese, a regulação metabólica através de hormônios que vão ser semelhantes aos hormônios produzidos pela tireoide, então nós podemos observar que diante de todas essas informações o quanto não somente o conteúdo, mas também a membrana da gema é importante para o desenvolvimento embrionário”, enfatiza.

Por sua vez os componentes do albúmen se originam da corrente sanguínea e são depositados na formação do ovo através do magnum no oviduto e a maioria dos nutrientes são consumidos por via oral pelo embrião junto com o líquido amniótico, enquanto resíduos adentram o saco vitelino antes da eclosão do pintinho. “Antes da incubação, o albúmen desenvolve uma ação de defesa microbiana (barreira física para o embrião, viscosidade, alto PH e presença de lisozimas), todos esses fatores em conjunto vão agir de forma a melhorar a defesa microbiana desse embrião que está sendo desenvolvido. E durante a incubação nós temos a formação do fluído sub-embrionário e uma segunda fase onde esse fluído é absorvido pelo saco da gema e ingerido pelo embrião”, relata.

Papel da alimentação

O papel da alimentação da matriz vai ser importante para a manutenção da ave como também dos nutrientes dessa alimentação que serão transferidos para os ovos incubados. “A nutrição impacta no desenvolvimento dos pintinhos, uma vez que eles são dependentes desses nutrientes transferidos pela matriz e consequentemente o seu tamanho, o vigor e a sua resistência imunológica podem ser comprometidos se essa ave tiver uma nutrição inadequada”, expõe Araújo.

“Uma das formas que o setor avícola pode melhorar o desenvolvimento da progênie é através do uso de leveduras para matrizes, que representam uma importante fonte de mananoligossacarídeos, betaglucanos, glutamina, nucleotídeos e vitaminas do complexo B. São utilizados de diversas formas em uma formulação, desde como fonte protéica, bem como de diferentes aditivos. E o uso de leveduras na dieta melhora o desempenho das matrizes e da progênie”.

Em um trabalho realizado pelo pesquisador da USP sobre o desempenho das matrizes e o desenvolvimento da progênie através da suplementação de Saccharomyces cerevisiae através da dieta das reprodutoras, Araújo detalha que foi usada a suplementação de 680 gramas por tonelada de levedura na dieta de matrizes em um período de 24 a 45 semanas. “Observamos que durante o desenvolvimento dessas matrizes nós tivemos uma melhoria na eclosão de ovos férteis, então quando avaliamos ovos e matrizes com 32 semanas com os de 39 semanas observamos que houve um aumento na eclosão desses ovos comparado com aves que receberam dieta controle. E essa melhoria foi ainda maior nas aves com 39 semanas, uma vez que quanto maior o tempo de alimentação dessa ave reprodutora com levedura melhor serão as respostas do seu desempenho, assim como na fase inicial houve uma redução de ovos contaminados”, menciona Araújo.

E no que diz respeito ao desempenho da progênie, Araújo diz que houve uma melhoria na conversão alimentar dos pintinhos nas matrizes com 39 semanas quando foram oriundos de matrizes suplementadas com levedura na dieta. “Diante das características nutricionais dos componentes que essa levedura apresenta, ela vai melhorar a absorção de nutrientes e esses nutrientes vão gerar pintinhos que são capazes de expressar melhor todo seu potencial genético”, ressalta.

Em outro trabalho, o pesquisador avaliou o uso de levedura hidrolisada no desempenho de matrizes e seus efeitos na progênie com a suplementação de 5 kg por tonelada em matrizes já na fase de produção, no período de 25 a 45 semanas, com avaliação dos pintinhos quando estavam com 35 e com 45 semanas. “Observamos que a produção, a fertilidade e a eclodibilidade de ovos incubados e férteis apresentou uma melhora nos ovos de matrizes que foram suplementadas com a levedura hidrolisada”, informa.

Em relação ao resultado da progênie, tanto pintinhos de matrizes com 35 semanas quanto pintinhos de matrizes com 45 semanas não foi observado diferença no consumo de ração, porém houve uma melhoria no ganho de peso dessas aves e na conversão alimentar.

Minerais na dieta

O pesquisador também destaca o uso de oligoelementos, que são microminerais que funcionam como catalizadores ou estruturais cofatores em enzimas e proteínas. No crescimento e no desenvolvimento de embriões, sua deficiência mineral pode reduzir a eclodibilidade, aumentar a mortalidade, bem como causar distúrbios do sistema esquelético, imunológico e cardiovascular. Por sua vez, a concentração de minerais na dieta das matrizes e disponibilidade são correlacionados com a quantidade de minerais no ovo para utilização dos embriões.

Desafios

O pesquisador destaca que a cada dia que passa as margens de lucro dentro da indústria se tornam cada vez menores e os desafios cada vez maiores. “Apresentamos vários resultados em que é possível demonstrar a ligação entre a nutrição adequada de uma reprodutora e o seu efeito sobre a progênie e o quanto isso pode ser benéfico para o sistema produtivo”, afirma, acrescentando: “Ainda não conseguimos esgotar o assunto e ainda há muita coisa a ser pesquisada, mais informações precisam ser geradas. É uma área de pesquisa que, com certeza, ainda vai trazer muitas informações importantes para todos”, lembrou o estudioso.

Fonte: O Presente Rural

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