O cuidado com o solo foi pauta de discussões na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), evento que reuniu autoridades de diversos países entre os dias 1 e 12 de novembro na cidade de Glasgow, na Escócia.
Conservar o solo traz impactos positivos na qualidade da água, do clima e na produção de alimentos. Contudo, os índices de erosão são maiores que as taxas naturais de renovação do solo, mesmo em países mais desenvolvidos.
Para cuidar do solo é preciso dar atenção à dinâmica que existe entre água e carbono. Em condições adequadas de umidade e disponibilidade suficiente de macro e micronutrientes, quanto maior o teor de carbono na atmosfera maior será a produtividade de vegetais e, consequentemente, maior será a fixação de carbono. Em contrapartida, em condições de solo com deficiência hídrica ou com baixa disponibilidade de nutrientes, a fixação de carbono pelas plantas é comprometida.
Com foco nos compromissos firmados na COP-26, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) vai iniciar um projeto para quantificar as entradas e saídas de carbono do solo, durante a produção de forragem, em sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Além disso, o projeto vai analisar a quantidade de água utilizada para cada quilograma de forragem produzida nesses sistemas em comparação com outros sistemas convencionais.
De acordo com dados do IBGE, no Brasil as pastagens constituem a base da produção de ruminantes e ocupam cerca de 150 milhões de hectares. No entanto, a degradação dessas áreas, em várias regiões brasileiras, tem diminuído a produtividade de forragem, o que compromete a sustentabilidade ambiental e a rentabilidade do pecuarista.
“O fato é que a degradação de áreas de pastagens afeta diretamente a produção de forragem, a ciclagem de nutrientes e ciclos geoquímicos de carbono e água. Esse cenário é um desafio para a agricultura atual. É preciso manter os altos níveis de produtividade para obter produção de biomassa, fotossíntese, ciclagem de nutrientes e estruturação física do solo. Esse é um ciclo virtuoso que possibilita a sustentabilidade da agropecuária”, afirma o pesquisador da EPAMIG e coordenador da pesquisa, Fernando Franco.
O pesquisador explicita, ainda, que nos últimos anos os sistemas integrados de produção têm feito parte do cenário agropecuário brasileiro. Sistemas que integram pecuária com a atividade agrícola, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área e em um mesmo ano, são classificados como sistema de integração lavoura-pecuária (ILP). Já os sistemas que associam as características de ILP com a atividade florestal, na mesma área e no mesmo tempo, são classificados como sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
“A recuperação de pastagens degradadas é um trabalho que não pode esperar. Nessa perspectiva, os sistemas integrados de produção têm sido considerados como alternativas sustentáveis e lucrativas. As colheitas agrícolas amortizam os custos da recuperação das pastagens; as florestas conferem conforto animal e fixam carbono na madeira que preferencialmente tem sido utilizada na indústria de móveis. A EPAMIG segue firme no seu propósito de gerar as melhores soluções para os produtores e para o meio ambiente”, pontua.
As etapas da pesquisa
A pesquisa da EPAMIG será conduzida no Campo Experimental Getúlio Vargas, localizado no município de Uberaba (MG). Os experimentos serão iniciados na safra agrícola 2021-2022 e terão duração de dois anos, com término previsto para agosto de 2023.
Fernando Franco conta que serão plantadas mudas de Corymbia citriodora, espécie de eucalipto conhecido por produzir madeira de excelente qualidade e potencial moveleiro. Além disso, sementes de milho serão plantadas entre os renques das árvores em consórcio com brachiaria Urochloa brizantha, da cultivar Marandu.
Como parâmetro, os estudos serão realizados ao lado de uma pastagem degradada e de uma mata nativa, ambas presentes no Campo Experimental da EPAMIG em Uberaba.
No total, a forragem será produzida em cinco sistemas diferentes: pastagem degradada, pastagem em monocultivo, lavoura em monocultivo, ILP e ILPF.
“As entradas de carbono serão avaliadas por meio da estimativa de carbono presente na matéria seca de cada espécie vegetal acumulada mensalmente. As saídas serão avaliadas por meio da estimativa de carbono emitido do solo por meio do CO₂. Já as entradas de água no sistema serão avaliadas por meio da quantificação da precipitação. As saídas serão avaliadas por meio da quantificação da evapotranspiração das culturas e do monitoramento da umidade presente no solo”, conclui Fernando Franco.
Carbono no solo
O carbono constitui a base da vida na Terra. Por meio da fotossíntese, a energia da luz solar é captada e forma ligações entre os átomos de carbono, reação que forma moléculas orgânicas. Uma parte dessas moléculas é usada como fonte de energia pelas próprias plantas e retorna à atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO₂). A outra parte é fixada na biomassa vegetal, em especial na madeira e no solo, por meio dos processos de decomposição do material orgânico depositado e da humificação da matéria orgânica.
O acúmulo do carbono no solo é favorecido pelo desenvolvimento das culturas e por práticas de manejo e de conservação. Nesse sentido, o componente arbóreo presente no sistema ILPF pode proporcionar benefícios ambientais em termos de conservação do solo, da água e sequestro de carbono.
“A literatura especializada mostra que uma árvore de crescimento rápido em clima tropical possui potencial para fixar uma taxa de carbono que se iguala à taxa de CO₂ emitida por até 13 animais ao longo de um ano”, destaca Fernando Franco.
O projeto de pesquisa conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A EPAMIG é uma empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (SEAPA).
Fonte: EPAMIG