A soja subiu na bolsa de Chicago nesta sexta-feira e fechou em alta pelo terceiro pregão seguido, apoiada em sinais de uma demanda mais aquecida pela oleaginosa. O contrato para janeiro, o mais negociado, avançou 1,85% (23 centavos de dólar), a US$ 12,6725 o bushel, e a segunda posição, para março, 1,70% (21,25 centavos de dólar), para US$ 12,7125 por bushel.
A demanda chinesa foi mais uma vez o destaque. Mais cedo, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou que 122 mil toneladas da oleaginosa foram negociadas por destinos não-revelados, o que o mercado costuma supor ser a China. Na quarta-feira, foram notificadas uma venda de 130 mil toneladas para os chineses e 164 mil para destinos não-revelados.
O analista Karl Setzer, da AgriVisor, diz haver uma sinalização do país asiático de reduzir em 20% as compras nesta temporada em relação ao ciclo 2020/21. Isso deve limitar um aumento mais expressivo das vendas aos chineses, afirma.
“A medida colocará suas importações totais de soja dos EUA abaixo de 30 milhões de toneladas. Os atrasos causados pelo furacão Ida são uma das principais razões para essa queda do comércio, mas as flutuações para a demanda chinesa de soja também afetaram suas importações”, afrmou Setzer, em relatório, relembrando ainda que os estragos causados pelo Ida ampliaram as compras dos estoques de soja brasileira.
Com a nova safra do Brasil a caminho, a demanda pelo grão do país deverá se repetir no início de 2022. “A partir de março, a concorrência do Brasil será acirrada, com expectativa de produção recorde, exceto se ocorrerem incidentes de fim de ciclo”, acrescentou a AgriTel.
No Brasil, maior produtor mundial de soja, o início de safra tem sido animador nos principais Estados produtores, em especial em Mato Grosso, que lidera a oferta nacional do grão. A única preocupação no momento é com a falta de chuvas em parte do Rio Grande do Sul, um dos três maiores produtores do país.
O milho acompanhou a soja e também subiu no pregão de hoje. O contrato para março, o mais líquido, subiu 1,26% (7,25 centavos de dólar), para US$ 5,840 o bushel.
Ainda com poucas novidades nos fundamentos, o cereal conseguiu se descolar do trigo neste pregão, puxado pela recuperação parcial dos preços do petróleo durante a sessão. O fóssil encerrou o dia sem direção única nos mercados internacionais.
No entanto o analista Doug Bergman, da RCM Alternatives, aponta que pode haver uma sobrecompra dos futuros do milho por parte dos fundos especulativos. Ele ressalta que isso deixa o grão mais suscetível a fatores macroeconômicos que possam influenciar o mercado financeiro, como a atuação do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) no combate à inflação.
Até o dia 23 de novembro, último dado disponível da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), os fundos de investimento detinham 366.691 contratos líquidos comprados no milho — ou seja, que estão apostando na alta do cereal. Dos grãos negociados em Chicago, o milho é o ativo com maior número de posições.
Outra preocupação vem da China, que ainda está com uma demanda abaixo do projetado pelo USDA. “Até agora, foram negociadas 16 milhões de toneladas, abaixo da projeção do USDA de 26 milhões de toneladas. Autoridades chinesas afirmam que as importações serão menores, totalizando 20 milhões de toneladas. Isso pode gerar mais negócios para a Ucrânia”, concluiu Karl Setzer.
Após subir mais de 3% na véspera e liderar a alta dos grãos na bolsa de Chicago, o trigo passou por realização de lucros, mas, ainda assim, manteve-se acima do patamar de US$ 8 por bushel. O contrato com entrega março, o mais ativo no momento, caiu 1,38% (11,25 centavos de dólar), a US$ 8,0375 o bushel.
Mais cedo, a Stats Canada, órgão que equivale ao IBGE no Brasil, ajustou para cima sua previsão para a safra de trigo no país, de 21,2 milhões para 21,6 milhões de toneladas. Caso se confirme, o volume será 13,6 milhões de toneladas menor do que o produzido na safra passada, de 35,2 milhões de toneladas.
No caso do trigo, o analista Arlan Suderman, da StoneX, acrescenta que as preocupações do mercado financeiro também influenciaram o momento de realização de lucros. “A questão principal gira em torno da saúde da economia global daqui para a frente e seu impacto percebido na demanda por commodities, ameaçada pela inflação e pela ômicron”, disse ele à Dow Jones Newswires.
Apesar do resultado desta sessão, os fundamentos do trigo continuam muito positivos, com a oferta restrita, principalmente do cereal de boa qualidade. Na quarta-feira, o Monitor das Secas americano divulgou problemas relativos à seca no Kansas, maior Estado produtor de trigo dos EUA.
As condições climáticas na Austrália também continuam a ser um elemento de preocupação. “As temperaturas mais baixas do que o normal no leste da Austrália reduziram as perspectivas de rendimento do trigo, de acordo com o modelo de Gro”, divulgou o Escritório Australiano de Economia e Ciências Agrícolas e de Recursos (Abares), citando sua ferramenta de monitoramento. “Fortes chuvas na região podem comprometer ainda mais a qualidade e a produção da safra”, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico