O clima, que preocupou os produtores rurais neste ano, será novamente determinante para as colheitas de 2022. Até agora, tudo indica que as diferentes safras serão melhores que as deste ano, afetadas por seca e geadas, mas mesmo com a oferta agrícola em expansão, há pouco espaço para quedas fortes de preços.
É o que confirmaram as primeiras perspectivas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para a agropecuária brasileiras no próximo ano, divulgadas ontem. “Os preços internacionais apresentam tendência de aumento graças ao movimento de recomposição de estoques em diversos países e ao aquecimento da demanda por grãos, principalmente os destinados à ração animal”, afirmou José Ronaldo Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea. Nas grandes cadeias exportadoras, esse cenário normalmente significa preços sustentados também no país.
A perspectiva de produção dos dois principais grãos cultivados no Brasil, soja e milho, é positiva, segundo Ana Cecília Kreter, pesquisadora associada do Ipea e uma das coordenadoras da nota de conjuntura publicada ontem. “A perspectiva é de safra recorde para a soja [avanço de 3,4% em 2021/22 ante 2020/21], recuperação e expectativa de recorde no milho [aumento de 34,1%], leve queda na produção de arroz [1,8%] e alta na produção de algodão [12,6%]”, lembrou Allan Silveira, superintendente de Inteligência e Gestão da Oferta da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Se as condições climáticas se confirmarem, o país deve recuperar o protagonismo no mercado internacional do milho, como segundo ou terceiro maior exportador mundial do cereal, além de incrementar os estoques domésticos.
No terceiro trimestre, os preços das commodities continuaram elevados. No caso da soja, os baixos estoques no período e a demanda aquecida sustentaram as cotações. O milho, que subiu em julho e agosto, caiu em setembro, com o avanço da colheita. O trigo, por sua vez, avançou, sob preocupações com o clima, boa demanda interna e elevada paridade de importação.
Nicole Rennó, pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea, observa que os movimentos dos preços domésticos agropecuários no terceiro trimestre foram bem variados. “Para os grãos, a estabilidade em níveis elevados refletiu a boa demanda e a oferta ajustada. Na pecuária, frango, leite e ovos subiram com o aumento da demanda por proteínas mais baratas e dos custos de produção, mas a arroba bovina caiu diante da suspensão dos envios desta carne à China”, disse. O preço do café foi um dos que mais subiram no período, em decorrência da oferta restrita do produto na safra atual, influenciada pela bienalidade negativa e fatores climáticos.
Apesar da estabilidade do preço do frango do mundo, o “efeito renda” nos países da Ásia e do Oriente Médio e os problemas sanitários na África do Sul e México resultaram em aumentos no terceiro trimestre. As cotações internacionais da carne bovina seguiram em alta “ao contrário dos preços domésticos, por causa da estiagem nos principais países produtores, do tempo de recomposição do rebanho após retorno do incentivo de preço e das chuvas e do preço elevado dos grãos”, analisou o Ipea.
O instituto também realça que a expectativa de safra recorde de trigo com produção 23,3% maior em 2021 está pressionando negativamente os preços domésticos da cultura neste quarto trimestre. A previsão é de estabilidade nos preços da soja e da laranja. Já as cotações do arroz e da batata devem permanecer em patamar elevado até o fim do ano.
Os preços do boi gordo (+46,3%) e do frango (+44,2%) foram os que mais subiram entre janeiro e setembro. No período, o valor pago pela carne suína ao criador aumentou 19,2%. E os custos estão em alta, o que limita o espaço para quedas.
Fonte: Valor Econômico